Fábio Carvalho volta pela quarta vez a Portugal para mais uma residência artística

foto: Maria de Fátima Lambert

Depois de Caldas da Rainha (Faianças Bordallo Pinheiro, 2011), Porto (Maus Hábitos, 2012), Vista Alegre (Porcelana Vista Alegre, 2013) e Ílhavo (Oficina da Formiga, 2013), Fábio Carvalho irá voltar pela quarta vez a Portugal, em junho deste ano, para participar de sua quinta residência artística, desta vez em Alcobaça.
Esta será a quarta residência artística de Fábio Carvalho com cerâmica, que terá lugar na São Bernardo Ceramics, fundada nos anos 1980 pelo arquiteto Manuel da Bernarda, cuja família está envolvida na industria da cerâmica desde 1875. Alcobaça é uma cidade onde a tradição da produção cerâmica remonta ao século XII. O projeto e a curadoria da residência artística é de Maria de Fátima Lambert, curadora residente no Porto, Portugal, atuante em todo aquele país e no exterior, incluindo o Brasil.

A São Bernardo Ceramics tem tradição na colaboração com renomados designers internacionais, como Gerald Gulotta, Jasper Conran, James Packer, John Rochas, Arnold Zimmerman, Nancy Smith, entre outros. Além de Fábio Carvalho mais 2 artistas brasileiros e 12 portugueses farão parte desta residência artística.

Desta vez Fábio Carvalho pretende produzir uma peça de grande dimensão, ou um conjunto de peças que ocupem uma grande área, de forma a experimentar e ampliar os limites da sua recente experiência em cerâmica. Posteriormente as peças de cerâmica produzidas por todos os artistas participantes do projeto serão expostas no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.

Este ano, Fábio Carvalho foi também convidado a englobar um grupo de 10 artistas internacionais para criar cada qual, em Lisboa, uma peça de grande dimensão com os tradicionais azulejos portugueses. Estas peças serão montadas em fachadas de prédios devolutos.

Obras de Fábio Carvalho integram a exposição "Como refazer o mundo"

Obras da série "Em sendo patente..." de Fábio Carvalho integram a exposição "Como refazer o mundo", com curadoria de Divino Sobral, na galeria Luiz Fernando Landeiro Arte Contemporânea, em Salvador, de 15/5 a 31/7/2014.



A exposição Como refazer o mundo evidencia a prática artística contemporânea como uma atividade que se dedica a refazer aspectos do mundo. Reúne obras que trabalham com diferentes categorias e suportes, que reconstroem e deslocam o estatuto e a configuração de imagens e figuras, de pequenas coisas do dia a dia, de acontecimentos que passam despercebidos, de objetos que deixamos de notar, de afetos para os quais não temos tempo, de desejos que frustramos, de espaços da imaginação que deixamos de colocar em conversação com os espaços do mundo.

A mostra reúne obras feitas em diálogo com o mundo e que nos colocam atentos a ele, que nos convidam a vivenciá-lo, que operam e produzem sentido diante dele e para ele, trabalhos que propõem inúmeras formas de conversações com as questões da vida atual.



Os trabalhos de Fábio Carvalho que participam da exposição fazem parte da série "Em sendo patente...", e são decorrentes da Residência Artística que o artista realizou no Maus Hábitos Espaço de intervenção Cultural, no Porto, Portugal, em abril 2012, onde Fábio Carvalho buscou incorporar, na pesquisa do seu trabalho, elementos típicos dos labores ditos femininos ainda presentes na cultura lusitana, em particular o bordado dos lenços de namorados, um elemento de conexão no passado entre Portugal e Brasil, embora conhecidos por poucos em nosso país.



Os lenços de namorados são uma forte tradição da cultura popular portuguesa no norte do país, que teve origem pelo século XVIII. Eram lenços bordados pelas mulheres solteiras, usados originalmente para declarar seu interesse por um determinado rapaz. Elas entregavam o lenço para o pretendente, que se o usasse em sua roupa no dia seguinte, indicava que ele correspondia ao sentimento da moça. Mais tarde, os lenços passaram também a ser presenteados ao namorado ou marido que partia para uma terra distante em busca de melhores condições de vida, na maioria das vezes o Brasil.

Os lenços eram bordados com uma quadra de autoria da própria mulher, cercada de ilustrações que simbolizam a paixão, amor, fidelidade, etc., sempre em cores fortes. Este lenço passou a ser como uma carta (tema muito repetido nos lenços) que o seu namorado ou marido levava sempre consigo no bolso, para se lembrar da amada que ficou longe, em Portugal.



Os trabalhos da série "Em sendo patente..." tem como base naperons (paninhos de mesa) portugueses antigos, aos quais são acrescentadas insígnias militares autênticas. Depois, o artista bordou ele mesmo à mão elementos tradicionais do bordado português dos lenços de namorados, como o passarinho que leva um carta ao bico, ramos florais simples e ingênuos, bem como fez uso de apliques industriais, cristais, contas, pérolas e miçangas.

Os trabalhos atuais de Fábio Carvalho surgiram a partir de uma reflexão sobre os elementos que constituem as expectativas de gênero e sexualidade. A sua dialética opera na superposição e no conflito entre elementos tradicionais do universo feminino, tido como frágil e delicado, em particular os padrões decorativos florais, e a louça de porcelana, o scrapbook vitoriano, o bordado, as pérolas e os cristais, com os estereótipos de masculinidade, como o soldado, o halterofilista, o cowboy, entre outros, usualmente pensados como símbolos imaculados de força e virilidade. A produção artística de Fábio Carvalho procura levantar uma discussão sobre estes estereótipos de gênero, e questionar o senso comum de que força e fragilidade, virilidade e poesia, masculinidade e vulnerabilidade não podem coexistir.



Serviço
Exposição Como refazer o mundo
abertura: 15 de maio de 2014, às 19 horas.
até: 16 de maio a 30 de julho de 2014.
visita guiada com o curador: 17 de maio, às 17 horas.
horário: segunda/sábado, 10 - 19 horas
Luiz Fernando Landeiro Arte Contemporânea
Rua da Paciência, nº 227, Rio Vermelho, 41.950-010, Salvador / BA.
Tel. 55 71 3035-4154 / 8802-4154