Jorge Saraiva - foto: Oficina da Formiga |
Fábio Carvalho - foto: Oficina da Formiga |
Nesta residência eu pude aprender e explorar as técnicas e métodos portugueses tradicionais da pintura com estampilha (estanhola, stencil ou molde vazado) em faiança sobre peça chacotada com vidrado cru, surgidas no século XIX, e há muito desaparecidos, não mais adotados nas indústrias com produção em larga escala. A Oficina da Formiga é uma das poucas cerâmicas, senão a única, que de forma corajosa preserva e dá continuidade a estas técnicas.
Primeiramente fiz uma experiência de "colagem" do acervo de estampilhas da Oficina da Formiga, combinando diversas estampilhas de vários padrões decorativos tradicionais, tendo como base o homem de um casal de dançarinos.
Medalhão Parolo |
A seguir, pensando nos tradicionais pratos de faiança portuguesa com figuração humana, e nas figuras de convite da azulejaria portuguesa, criei um desenho original a partir da ideia já explorada nos bordados "Monarcas" e em "Paraíso Monarca". Fiz a separação das cores que seriam usadas, que depois foram passadas para o papel especial (película poliéster) para a abertura das respectivas estampilhas.
Fábio Carvalho e Jorge Saraiva abrindo as estampilhas. foto: Oficina da Formiga |
Depois de abertas as estampilhas, foram pintadas as peças com vidrado cru. Nos dias que se seguiram, fiz uma variação da primeira estampilha que criei, depois variações nas cores usadas, e por fim, uma combinação dos dois conjuntos de estampilhas que criei na Oficina da Formiga, dando origem a 4 desenhos diferentes, num total de 8 peças pintadas. Todas as bordas pintadas nos medalhões são do acervo da Oficina da Formiga, e são padrões tradicionais da faiança portuguesa, caprichosamente recuperados pelo Jorge Saraiva. Nestas eu fiz modificações de cor de forma a dialogarem melhor com os soldados no centro da peça. As bordas que escolhi, apesar de serem sempre representações florais, pareciam ao mesmo tempo arame fardado e borboletas, flores e certo tipo de elementos usados em trincheiras, etc.
Dia a dia na Oficina da Formiga |
Depois desta experiência passei a ter ainda mais respeito e admiração pelo trabalho dos mestres do passado. Mesmo hoje em nossos dias, com tantos aparatos tecnológicos, fornos elétricos de temperatura constante e bem controlada, pigmentos, vernizes e vidrados industriais com precisão de laboratório, materiais especiais para confecção das estampilhas, é sempre um enigma e uma surpresa o que vai sair dos fornos. Imaginem no tempo em que tudo era mais precário e intuitivo.
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