Residência Artística Oficina da Formiga

No final de 2013 eu tive a incrível oportunidade de fazer uma Residência Artística na Oficina da Formiga, uma cerâmica que fica em Ílhavo, Portugal, fundada em 1992 por Jorge Saraiva, que trabalha na área há mais de 20 anos. Esta foi a quinta residência artística que participei naquele país.

Jorge Saraiva - foto: Oficina da Formiga

Fábio Carvalho - foto: Oficina da Formiga

Nesta residência eu pude aprender e explorar as técnicas e métodos portugueses tradicionais da pintura com estampilha (estanhola, stencil ou molde vazado) em faiança sobre peça chacotada com vidrado cru, surgidas no século XIX, e há muito desaparecidos, não mais adotados nas indústrias com produção em larga escala. A Oficina da Formiga é uma das poucas cerâmicas, senão a única, que de forma corajosa preserva e dá continuidade a estas técnicas.

Primeiramente fiz uma experiência de "colagem" do acervo de estampilhas da Oficina da Formiga, combinando diversas estampilhas de vários padrões decorativos tradicionais, tendo como base o homem de um casal de dançarinos.


Medalhão Parolo

A seguir, pensando nos tradicionais pratos de faiança portuguesa com figuração humana, e nas figuras de convite da azulejaria portuguesa, criei um desenho original a partir da ideia já explorada nos bordados "Monarcas" e em "Paraíso Monarca". Fiz a separação das cores que seriam usadas, que depois foram passadas para o papel especial (película poliéster) para a abertura das respectivas estampilhas.


Fábio Carvalho e Jorge Saraiva abrindo as estampilhas.
 foto: Oficina da Formiga

Depois de abertas as estampilhas, foram pintadas as peças com vidrado cru. Nos dias que se seguiram, fiz uma variação da primeira estampilha que criei, depois variações nas cores usadas, e por fim, uma combinação dos dois conjuntos de estampilhas que criei na Oficina da Formiga, dando origem a 4 desenhos diferentes, num total de 8 peças pintadas. Todas as bordas pintadas nos medalhões são do acervo da Oficina da Formiga, e são padrões tradicionais da faiança portuguesa, caprichosamente recuperados pelo Jorge Saraiva. Nestas eu fiz modificações de cor de forma a dialogarem melhor com os soldados no centro da peça. As bordas que escolhi, apesar de serem sempre representações florais, pareciam ao mesmo tempo arame fardado e borboletas, flores e certo tipo de elementos usados em trincheiras, etc.

Dia a dia na Oficina da Formiga

Depois desta experiência passei a ter ainda mais respeito e admiração pelo trabalho dos mestres do passado. Mesmo hoje em nossos dias, com tantos aparatos tecnológicos, fornos elétricos de temperatura constante e bem controlada, pigmentos, vernizes e vidrados industriais com precisão de laboratório, materiais especiais para confecção das estampilhas, é sempre um enigma e uma surpresa o que vai sair dos fornos. Imaginem no tempo em que tudo era mais precário e intuitivo.

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